sábado, 24 de agosto de 2013

"Explicação da Eternidade"


Devagar, o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.

os assuntos que julgámos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.

por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.

os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.

foste eterna até ao fim.

José Luís Peixoto

2 comentários:

  1. Conheço o teu poder e a fouce dura
    Que a tua dextra empolga assaz respeito.
    Sei que abaixo do sol tudo é sujeito
    A teu poder feroz, tua bravura.

    De Babilónia a torre assaz segura
    De teu golpe fatal sentiu o efeito.
    Por ti o Ródio c'losso foi desfeito,
    Sem lhe valer a desmarcada altura.

    Mas eu tenho um padrão que Amor defende.
    Tempo cruel, que zomba do teu corte,
    Bem que a mim teu furor assaz ofende.

    É o meu coração constante e forte,
    Coração que do Tempo a mão não rende,
    Coração que só vence a mão da Morte.

    Francisco Joaquim Bingre, in 'Sonetos'

    ResponderEliminar